A Fragilidade da Consideração – Por André Luiz Santiago Eleutério

Há momentos na vida em que nos sentimos indispensáveis. Somos vistos, reconhecidos e valorizados. O olhar de admiração dos outros nos aquece, a sensação de pertencimento nos conforta. Acreditamos, ainda que inconscientemente, que essa consideração durará para sempre. Mas, de repente, sem aviso, ela se dissipa como fumaça.

O brilho nos olhos daqueles que antes nos admiravam some. O espaço que ocupávamos com tanta importância é preenchido por alguém mais novo, mais útil ou, simplesmente, mais conveniente para a nova realidade. Não há despedidas, não há explicações, apenas o silêncio gelado da indiferença.

A verdade, por mais cruel que seja, é que a consideração não nasce da essência, mas da conveniência. Enquanto atendemos às expectativas, somos exaltados. Mas basta uma mudança de cenário – um erro, uma nova necessidade, ou até mesmo o simples passar do tempo – para que sejamos colocados de lado, esquecidos como se nunca tivéssemos sido importantes.

Essa percepção pode ser dolorosa. Sentir-se invisível após ter sido essencial machuca. Dá a sensação de que nosso valor está atrelado àquilo que podemos oferecer e não ao que somos. E, se não tivermos cuidado, começamos a acreditar nisso. Passamos a medir nossa importância com base no reconhecimento alheio.

Mas aqui está a grande armadilha: esperar consideração eterna de um mundo que vive em constante movimento é se condenar a frustrações sem fim. As pessoas mudam, as situações mudam, e, com elas, mudam também as prioridades. Não significa que nunca fomos importantes, apenas que tudo tem seu tempo.

O peso do esquecimento

Ser deixado de lado pode trazer uma sensação de injustiça. Como alguém que nos valorizava tanto pode, de repente, agir como se nunca tivéssemos existido? Como aquela empresa na qual demos o nosso melhor pode nos substituir sem hesitação? Como amizades que pareciam sólidas podem esfriar tão rápido?

O esquecimento dói porque nos obriga a encarar uma verdade incômoda: o mundo segue em frente, independentemente da nossa presença. E isso pode ser devastador para quem construiu sua identidade a partir da validação externa.

Mas há uma forma diferente de enxergar essa realidade. Se a consideração vem da conveniência, então sua ausência não significa falta de valor. Significa apenas que não estamos mais encaixados na necessidade do outro – e isso não define quem somos.

Nosso valor não diminui quando deixamos de ser úteis para alguém. Ele continua intacto, esperando para ser reconhecido por nós mesmos.

O poder da autovalorização

Se há algo que podemos aprender com essas situações, é que nosso verdadeiro valor não pode estar nas mãos dos outros. Precisamos reconhecê-lo dentro de nós, independentemente do olhar externo.

Isso não significa que devemos ser frios ou indiferentes. Pelo contrário, significa que devemos nos conectar com as pessoas sem nos tornar dependentes da aprovação delas. É um equilíbrio difícil, mas necessário.

Se já passou por isso, saiba que você não está sozinho. Todos, em algum momento, enfrentam a dor de se sentir descartáveis. Mas a verdade é que ninguém é realmente substituível naquilo que tem de único. O que você viveu, o que construiu e o impacto que teve na vida dos outros são reais, mesmo que não sejam mais reconhecidos.

E, mais importante, o seu valor vai além do que você faz pelos outros. Você é muito mais do que a utilidade que o momento exige.

Então, quando o mundo parecer esquecer quem você é, lembre-se: o valor verdadeiro não se apaga, apenas muda de cenário.

Este artigo é de autoria do jornalista André Luiz Santiago Eleutério.