O vento intensifica a sensação de frio durante toda a segunda-feira em Porto Alegre. Por volta das 21h, a temperatura já havia despencado para 6ºC em regiões como o Centro Histórico, tornando a permanência em espaços abertos ainda mais difícil. No mesmo horário, o micro-ônibus da Secretaria de Assistência Social da Capital partia levando mais um grupo de pessoas em situação de rua para um ponto de acolhimento recém-aberto na zona Norte.
É noite de casa cheia, no plural. As 120 vagas do Ginásio do Departamento de Habitação (Demhab) já estão ocupadas, e a estrutura montada para 150 pessoas na Comendador Azevedo, bairro Floresta, estava na expectativa de abrigar 225. A razão é a onda de frio que chegou ao Estado e promete uma semana ainda mais difícil para quem não tem teto.
Em média, os cinco pontos de acolhimento no município recebem 350 pessoas por noite, mas a Porto Alegre úmida e acuada pelo Guaíba está na iminência das mínimas mais baixas do ano até aqui. Quem sente na pele o clima coloca de lado qualquer resistência em relação ao abrigo, como sugerem os números de hoje.
Não é só o trabalho realizado pelas 11 equipes de busca ativa da Assistência Social durante a noite/madrugada. Enquanto a reportagem esteve nos abrigos do Demhab e do Floresta, ao menos uma dezena de pessoas se dirigiu aos locais por conta própria. Teve ainda que parou o ônibus ou procurou um dos assistentes sociais durante a ronda nos bairros.
Em noites como esta – e as que virão na sequência, conforme a meteorologia projeta – sair da rua é questão de sobrevivência. “J”, 32 anos e há dez invernos resistindo, decidiu pela cama quente de um dos pontos de acolhimento. Normalmente, revela, fica apenas com cobertores, roupas e alimentos doados por voluntários ou pelo município. O motivo é óbvio, mas socialmente ignorado: “o frio dói”, define "J”, com propriedade.
As ações fazem parte do plano de enfrentamento à onda de frio que chega à Capital nesta semana, após as chuvas que causaram uma nova cheia do Guaíba e o alagamento de ruas em diversos bairros.
A Capital gaúcha teve um acréscimo de 14,88% no número de pessoas em situação de rua após a enchente de 2024, conforme o Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (OBPopRua/UFMG).
Outra novidade é o serviço de transporte gratuito que passa a levar, pela manhã, os acolhidos no abrigo do Demhab até o Centro POP da avenida João Pessoa, onde passam o dia com acesso a alimentação e atendimento social.
Às 17h, o ônibus realiza o trajeto de volta, levando os interessados novamente ao abrigo para o pernoite. Nos próximos dias, o itinerário será ampliado até o abrigo do 4º Distrito.
As equipes da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) também reforçaram as rondas noturnas para oferecer acolhimento emergencial nas ruas. A população pode solicitar atendimento à Abordagem Social por meio da Central 156.
Horário: das 19h às 7h;
Serviços: dormitório; alimentação; e cuidados de higiene. Aceitam animais.