Durante o seminário de integração gasífera regional, realizado nesta quinta-feira (22), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), destacou o papel estratégico do Rio Grande do Sul na entrada do gás natural argentino no Brasil. O evento reuniu autoridades e representantes do setor energético da América do Sul e reforçou a necessidade de investimentos em infraestrutura para viabilizar a importação em larga escala do gás produzido em Vaca Muerta, na Patagônia argentina.
“O potencial de fornecimento de Vaca Muerta é infinito, e temos uma indústria pujante do lado brasileiro, sedenta por gás natural a preço competitivo”, declarou Silveira. O ministro afirmou que o estado gaúcho é a “principal porta de entrada” para o gás natural da Argentina, enfatizando o corredor logístico entre Uruguaiana e Porto Alegre como peça-chave para o escoamento do insumo.
A declaração teve também um tom político, já que Silveira e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, agora dividem o mesmo partido: o PSD. Leite, que deixou o PSDB após mais de duas décadas, participou do evento e foi citado como parceiro estratégico na agenda de integração energética.
O principal entrave para a ampliação da entrada de gás argentino no Brasil é a infraestrutura ainda incompleta. A Transportadora Sulbrasileira de Gás (TSB) possui hoje, em Uruguaiana (RS), a única conexão direta com a Argentina. No entanto, essa conexão distribui gás apenas na região da fronteira, abastecendo a UTE Uruguaiana, operada pela Âmbar Energia.
O trecho pendente do projeto – o gasoduto entre Uruguaiana e Triunfo – tem aproximadamente 600 km e está longe de ser realidade. Orçado em R$ 6,8 bilhões, o empreendimento depende da assinatura de contratos de longo prazo que garantam o retorno do investimento. Sem esses contratos, as obras continuam indefinidamente suspensas.
Além disso, um projeto adicional, proposto pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), para uma rota alternativa entre Siderópolis e Porto Alegre, adicionaria mais R$ 2,2 bilhões em custos ao plano de integração energética da região Sul.
O debate sobre a melhor forma de trazer o gás argentino ao mercado brasileiro envolve diferentes rotas. Em 2024, os governos do Brasil e da Argentina criaram um grupo de trabalho para estudar as alternativas de interligação dos sistemas de gasodutos dos dois países. As opções em análise incluem:
Utilização do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), aproveitando infraestrutura existente;
Interligação via Uruguaiana, com complementação do gasoduto até Porto Alegre;
Rota pelo Chaco Paraguaio;
Alternativa pelo Uruguai até o RS;
Importação de gás natural liquefeito (GNL) por meio de navios.
Embora a rota pelo Gasbol seja a única viável no curto prazo, especialistas alertam que, para garantir segurança energética a médio e longo prazo, será necessário investir em novas infraestruturas.
É nesse contexto que surge o interesse pelo site de novidades do setor energético, que acompanha de perto os desdobramentos sobre projetos de integração gasífera e investimentos em infraestrutura transnacional.
Entre as alternativas mais debatidas, a proposta de construir um gasoduto atravessando o Paraguai – conhecido como Gasoducto Bioceánico – é a mais ambiciosa. O projeto prevê mais de mil quilômetros de dutos conectando Argentina, Paraguai e Brasil. No lado brasileiro, o trecho previsto, entre Porto Murtinho e Campo Grande (MS), teria cerca de 392 km, atravessando 11 municípios. A estimativa da EPE é que essa parte da obra custe R$ 6,12 bilhões.
Apesar da magnitude, o vice-ministro de Minas e Energia do Paraguai, Mauricio Bejarano, demonstrou otimismo quanto à viabilidade da proposta. Segundo ele, as condições de instalação no Chaco Paraguaio são favoráveis, e o projeto permitiria a integração plena do país ao mercado energético da América do Sul.
“O Paraguai está pronto para avançar com o projeto. Queremos atrair investimentos e ser parte ativa da transição energética da região”, afirmou Bejarano.
Entretanto, analistas brasileiros demonstram cautela. Por se tratar da alternativa que exige maior volume de infraestrutura nova, há dúvidas quanto à viabilidade financeira e aos prazos de execução.
Embora os custos diretos de cada rota sejam um dos principais critérios na tomada de decisão, outras variáveis também terão peso. O Plano Indicativo de Gasodutos de Transporte (PIG), da EPE, destaca aspectos como:
Prazos de execução das obras;
Estabilidade diplomática entre os países envolvidos;
Atratividade para investidores;
Segurança do suprimento energético;
Necessidade de melhorias em estruturas adjacentes.
“O alinhamento desses diversos fatores, juntamente com o custo, são fundamentais para a tomada de decisão final de investimento para a integração gasífera regional”, afirma o plano.
O Rio Grande do Sul, com sua posição geográfica privilegiada e infraestrutura parcialmente existente, figura como favorito para se consolidar como porta de entrada do gás argentino. No entanto, sem investimentos concretos e compromissos firmes entre os países e agentes econômicos, o futuro da integração energética ainda é incerto.
Enquanto isso, o debate continua ativo em seminários, grupos de trabalho e análises técnicas. A demanda por gás competitivo por parte da indústria brasileira pressiona por soluções rápidas e eficazes – e o tempo para decidir sobre a melhor rota começa a se esgotar.
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