O Rio Grande do Sul figura entre os Estados brasileiros com maior proporção de médicos especialistas, de acordo com a mais recente edição da pesquisa Demografia Médica 2025, desenvolvida pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Dos 38,7 mil médicos em atividade no território gaúcho, 26,3 mil possuem alguma especialização, representando 67,9% do total. Em termos proporcionais, o Estado apresenta 234,44 especialistas para cada 100 mil habitantes, ficando atrás apenas do Distrito Federal (453,5), São Paulo (244,19) e Rio de Janeiro (237,23).
Com uma razão de 3,45 médicos por mil habitantes, o RS ultrapassa a média recomendada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 3,5 por mil habitantes. Apesar dos números expressivos, o cenário revela desequilíbrios preocupantes, especialmente em relação à distribuição geográfica dos profissionais e à qualidade da formação médica.
A distribuição desigual dos profissionais de saúde é um dos principais pontos de atenção apontados pelo estudo. Atualmente, 42,3% dos médicos do RS atuam em Porto Alegre, capital que reúne 16,4 mil profissionais. Essa concentração é criticada por especialistas e entidades do setor, que alertam para a escassez de médicos em municípios do interior.
De acordo com o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Eduardo Neubarth Trindade, a criação de faculdades de Medicina no interior do Estado não tem sido suficiente para fixar os profissionais nessas regiões. Ele afirma que a ausência de estrutura adequada e de incentivos à permanência dificulta a descentralização do atendimento médico.
Muitos médicos se formam em cidades menores, mas acabam migrando para centros urbanos maiores. É preciso investir em infraestrutura e criar condições reais para que esses profissionais permaneçam nas suas regiões de origem, defende Trindade.
A edição de 2025 da Demografia Médica aponta, pela primeira vez, que as mulheres são maioria entre os médicos em atividade no Brasil, representando 50,9% da força de trabalho nacional. No RS, 48,3% dos médicos são mulheres, evidenciando uma tendência de maior participação feminina na profissão.
No esforço para melhorar a equidade na distribuição de médicos e fortalecer áreas estratégicas do SUS, o Ministério da Saúde lançou um edital em maio de 2025. O objetivo é incentivar a criação de novos programas de residência médica e em áreas profissionais da saúde, com foco nas regiões com menor cobertura assistencial. A medida busca ampliar a formação de especialistas e fortalecer a atenção básica em locais carentes.
Essas ações são acompanhadas com atenção por diversos setores da sociedade e têm sido repercutidas por veículos como este portal de notícias nacional, que acompanha os desdobramentos das políticas públicas e das iniciativas voltadas à melhoria do sistema de saúde brasileiro.
O RS também se destaca no número de profissionais especializados em Medicina de Família e Comunidade, com cerca de 1,5 mil especialistas. Isso representa uma razão de 13,46 por 100 mil habitantes, colocando o Estado em terceiro lugar nacionalmente nessa especialidade, essencial para a atenção básica e a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar disso, a carreira de médico generalista ainda enfrenta baixa atratividade. Apenas 32,1% dos médicos no RS atuam como generalistas, enquanto 67,9% estão em alguma especialidade médica. Em comparação, a média nacional é de 40,1% de generalistas e 59,9% de especialistas.
A qualidade da formação médica é outro ponto sensível revelado pela pesquisa. A coordenadora do curso de Medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Maria Eugênia Bresolin Pinto, destaca que o Estado possui uma longa tradição na área, com instituições consolidadas e reconhecidas nacionalmente. No entanto, ela alerta para os riscos do crescimento desordenado de cursos.
A abertura indiscriminada de vagas em faculdades sem estrutura adequada pode comprometer a formação dos futuros médicos. É fundamental garantir qualidade, e não apenas quantidade, afirma a professora.
Essa preocupação também é compartilhada por estudantes. Victor Hugo Dresch, aluno do 7º semestre de Medicina na Universidade Feevale, avalia que a expansão acelerada da oferta de cursos está impactando a qualidade do ensino médico.
Muitos profissionais em formação não estão saindo com a mesma base sólida de gerações anteriores. Isso pode prejudicar o futuro da profissão, comenta o estudante, que inicialmente sonhava em ser cirurgião plástico, mas agora planeja atuar na área de cirurgia do aparelho digestivo.
A colega Kyliana Gerhardt Sevald, de 24 anos, também cursando o 7º semestre de Medicina na Feevale, reforça a importância do compromisso com a ciência. Ela observa que a responsabilidade dos médicos vai além do consultório, incluindo o papel de combatentes da desinformação nas redes sociais.
É necessário que os futuros médicos sejam fontes confiáveis de informação. Isso faz parte da nossa atuação como profissionais comprometidos com a ciência, afirma a estudante, que pretende seguir na área de dermatologia.
A concentração de especialistas nas grandes cidades não é exclusividade do RS. A região Sudeste concentra 55,4% dos especialistas brasileiros, seguida pelo Sul (16,7%), Nordeste (14,5%), Centro-Oeste (7,5%) e Norte (5,9%). Nos municípios do interior do Norte, por exemplo, há apenas 0,75 médicos por mil habitantes, com Estados como Roraima e Amazonas registrando índices ainda mais baixos: 0,13 e 0,20, respectivamente.
O RS conta atualmente com 20 escolas médicas, 408 programas de residência e 3,3 mil médicos residentes. Com 1,9 mil vagas abertas por ano, o Estado responde por 4% das vagas de Medicina no país. Apesar desse potencial formador, a fixação dos médicos formados fora dos grandes centros continua sendo um dos principais obstáculos para garantir uma saúde pública de qualidade e equitativa.
Diante desse cenário, especialistas concordam: investir em infraestrutura, planejamento e qualidade de ensino é essencial para que a medicina atenda às necessidades da população em todas as regiões do país.
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