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Novos contêineres dificultam acesso a recicláveis, agravando situação de catadores e da população de rua

Prefeitura investiu R$ 84,5 milhões na substituição de contêineres que iniciou em março.

30/03/2025 às 10h46
Por: Redação Acontece no RS Fonte: sul21.com.br
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Prefeito Sebastião Melo (MDB) durante a demonstração dos novos contêineres de recicláveis. Foto: Alex Rocha/PMPA
Prefeito Sebastião Melo (MDB) durante a demonstração dos novos contêineres de recicláveis. Foto: Alex Rocha/PMPA

 

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Prefeitura investiu R$ 84,5 milhões na substituição de contêineres que iniciou em março.

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Para quem tira o sustento da reciclagem, os novos contêineres de material reciclável instalados na Capital não são bem vistos. Os catadores reclamam que continuam tendo seu trabalho desvalorizado enquanto o governo de Sebastião Melo (MBD) investe milhões nas novas lixeiras. Já a população em situação de rua, que em parte também vive da coleta de recicláveis, se vê impedida de acessar o material pela nova configuração dos contêineres. Enquanto isso, o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) contabiliza os primeiros equipamentos incendiados desde a instalação.

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Desde o dia 12 de março, a Prefeitura está implementando 450 contêineres verdes exclusivos para o lixo reciclável, automatizando a coleta desse material. Uma área que abrange os bairros Centro Histórico, Cidade Baixa, Praia de Belas e Menino Deus será contemplada com os novos equipamentos. Eles são colocados ao lado dos recipientes de lixo orgânico para incentivar o descarte correto. O material será destinado a duas unidades de triagem (UTs): UT Reciclando pela Vida e UT Anjos da Ecologia.

Ao mesmo tempo, a gestão municipal está substituindo 450 contêineres de lixo orgânico por um modelo com tampa fixa e janela de abertura no formato boca de lobo. A entrada menor para a colocação de resíduos busca evitar o descarte de recicláveis de forma incorreta, além de inibir a retirada do lixo de dentro do contêiner.

Toda a renovação dos contêineres presentes em áreas centrais da cidade teve o investimento de R$ 84,5 milhões para dois anos de operação.

Fagner Antonio Jandrey, do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), afirma que o coletivo considera os novos contêineres danosos para a inclusão dos catadores e para a reciclagem na cidade.

“São investidos milhões nesta tecnologia, enquanto isso os catadores e catadoras, que são responsáveis pela reciclagem, continuam sem ser reconhecidos e valorizados. Esses contêineres não estão numa lógica de educação ambiental, além de apresentarem uma dificuldade pelo formato. A entrada é muito pequena. A pessoa vai tentar colocar um volume maior e não vai conseguir”, explica Fagner.

Membro da coordenação da Pastoral do Povo da Rua, Renato Farias dos Santos afirma que a reciclagem é também um dos principais trabalhos da população em situação de rua. “A atividade dos catadores pode, em alguns momentos, atrapalhar pela sujeira que alguns produzem próximo às lixeiras, mas faz algo que a Prefeitura não tem investido em fazer, que é aumentar o volume de material reciclado”, salienta. 

Para Renato, a implantação do que chama de ‘lixeiras armadilhas’, que impedem a retirada do lixo, não considera a importância do trabalho que fazem os catadores. Além disso, as lixeiras são frágeis, podendo ser quebradas, criando mais uma possibilidade de criminalização dos trabalhadores da rua.

“Esta população não vai sumir por não poder reciclar. Criar políticas sociais, assistência social, saúde, moradia e renda é essencial, uma não funciona sem a outra”, afirma.

Nilson Lira Lopes, fundador do Coletivo Estadual de Lutas da População em Situação de Rua, afirma que os novos contêineres impedem essas pessoas de recolher o material reciclável, pois a tampa está na parte de baixo do equipamento. “Existe há bastante tempo essa perseguição contra a população de rua que vive da coleta de material reciclável. Primeiro proibiram as carroças de tração animal, depois proibiram os carrinhos de tração humana de circular no centro sob pena de ser multado. Por último, surgiu a conversa de que a Prefeitura estava negociando com empresas a terceirização do material reciclável de Porto Alegre”, elenca.

“Essas medidas vêm articuladas com um decreto de internação involuntária, chamada internação humanizada, que na verdade é a volta do manicômio”, diz. Nilson refere-se à Política de Internação Humanizada, aprovada na Câmara Municipal em dezembro de 2024, que prevê a internação de pessoas em situação de vulnerabilidade, com ou sem consentimento, a pedido de familiar ou do responsável legal ou, na absoluta falta deste, de servidor público da área de saúde, de assistência social ou de órgãos públicos integrantes do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas (Sisnad), com exceção de servidores da área de segurança pública.

“Como se não bastasse, vem também outra ação com a Brigada Militar, chamada Choque de Ordem, que é a remoção violenta [da população em situação de rua] com retirada de pertences e agressão”, salienta Nilson. “Todas essas coisas juntas são, na verdade, um projeto político de morte das pessoas em situação de rua. Acrescente-se a isso dois incêndios em pousadas que acolhem esse público”.

Contêineres incendiados
O DMLU informou que, desde a instalação dos novos contêineres verdes para resíduos recicláveis, já foram incendiados quatro equipamentos. O mais recente incêndio ocorreu na madrugada desta quinta-feira (27), na rua Cícero Ahrends, bairro Menino Deus. No sábado (15), foi ateado fogo no primeiro contêiner disponibilizado para o endereço, que já havia sido substituído durante a semana. 

Outras duas unidades foram queimadas no último sábado (22) e aguardam a troca dos dispositivos. Uma delas estava na avenida Ipiranga, bairro Praia de Belas, e a outra na rua Barão de Teffé, Menino Deus. 

O custo unitário é de cerca de R$ 12,8 mil. Com limpeza e outras despesas adicionais geradas pela troca, cada substituição chega a aproximadamente R$ 20 mil, totalizando um prejuízo de R$ 80 mil até o momento, segundo o Departamento.

“É uma reação esperada”, comenta Renato, da Pastoral do Povo da Rua. “A colocação destes contêineres-armadilhas é uma desconsideração da humanidade das pessoas que só tentam satisfazer suas necessidades através do trabalho. Tratados assim, acabam reagindo. Se forem pegos pela Guarda Municipal, certamente serão tratados como criminosos. Acho que o crime maior é o que a Prefeitura está fazendo”.

O DMLU fez o registro policial dos danos. A prioridade é a manutenção da operação, para que a implantação do novo serviço de coleta não sofra atrasos.

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