A construção civil brasileira vive um momento de ouro. O faturamento do setor deve crescer 3% em 2024, acima da expectativa dos economistas no começo do ano, de 2,3%.
Desde o começo do ano, os canteiros de obras já ganharam 200.000 postos de trabalho. Há quem diga que o setor já atingiu o pleno emprego.
Por trás da expansão está o Minha Casa, Minha Vida (MCMV) , programa do governo federal para a habitação popular.
Nos últimos anos, as regras para entrar no MCMV mudaram. Pessoas com renda mais elevada , antes barrada do programa, agora podem pleitear um financiamento com juro mais baixo e subsídios oferecidos pelo governo.
Pelo lado das construtoras, os limites também aumentaram. Imóveis mais caros passaram a integrar a carteira do MCMV.
As vendas também cresceram: 37,4%, de acordo com dados da CBIC, fórum de discussão de construtoras e incorporadoras brasileiras.
Tudo isso é música para os ouvidos do empreendedor mineiro Cesar Silveira. Ele é o fundador da Árbore Engenharia, uma construtora e incorporadora fundada há 26 anos.
A empresa vive seu melhor momento.Em 2023, a companhia teve uma receita operacional líquida de 245 milhões de reais, alta de 24,27% em 12 meses.
O desempenho colocou a companhia no ranking EXAME Negócios em Expansão , o maior anuário do empreendedorismo do Brasil.
Na edição mais recente do ranking, lançada em julho, a Árbore ficou na posição 29 entre as empresas que mais crescem no país na faixa de 150 a 300 milhões de reais de faturamento.
A expansão veio na esteira do boom do MCMV. Boa parte da receita da construtora vem de empreendimentos da faixa 3 do programa habitacional, também conhecida como 'faixa premium' por estar voltada a pessoas com as maiores rendas elegíveis ao programa.
"Por causa dos estímulos ao MCMV, a gente dobrou o volume de vendas no ano passado", diz Silveira.
Na faixa 3, indivíduos com renda mensal entre 4.700 e 8.000 reais podem financiar um imóvel pelo MCMV.
Quem entra nessa faixa do programa habitacional pode comprar um imóvel avaliado em até 350.000 reais.
O valor pode ser irrisório para um bom apartamento numa metrópole como São Paulo.
Em cidades médias, onde os preços dos imóveis costumam ser mais em conta, o apelo do MCMV atrai muita gente da classe média.
Por isso, o alvo dos empreendimentos populares erguidos pela Árbore são cidades do interior paulista como Atibaia, Bragança Paulista, Jaguariúna e Taubaté.
São centros urbanos próximos a cidades maiores, como São Paulo, Campinas e São José dos Campos e, por isso, têm recebido moradores dali.
Em paralelo, a demanda por apartamentos para locação em plataformas como o Airbnb tem justificado o interesse dos clientes por lançamentos da Árbore em praças como Boituva, cidade a 115 quilômetros da Capital que virou um destino turístico por sediar esportes radicais como balonismo e rafting.
Os empreendimentos da Árbore seguem um padrão: em prédios de 15 pavimentos, os apartamentos costumam ter 46 ou 52 metros quadrados.
"Todos são erguidos junto a uma área de lazer estruturada, com piscina e quadra de esportes, além de garagem", diz Silveira. "É uma pegada de condomínio-clube."
O modelo de negócio da Árbore mudou muito desde a fundação. Silveira abriu o negócio pouco tempo após concluir a faculdade de engenharia em Belo Horizonte.
Na capital mineira, ele fez carreira numa construtora de imóveis de alto padrão. A afinidade com acabamentos de luxo fez ele ser procurado por amigos interessados em projetos dele para suas residências. Ou, então, para erguer imóveis voltados a investimentos.
Uma virada importante veio no ano de 2000, quando Silveira passou a construir residências incorporadas pela Tenda, uma das pioneiras na habitação popular.
Na época, o fato de a Tenda terceirizar a obra a um negócio como o da Árbore era uma novidade.
De lá para cá, ficou comum ver incorporadoras focadas no trabalho de aquisição de terrenos, elaboração de projetos e montagem de times comerciais — e, assim, repassar a obra para outra empresa.
Graças à tendência, a Árbore passou a atender grandes incorporadoras. Na ocasião, quem delegava a obra fazia isso para ganhar escala e uma atuação nacional mais rapidamente.
As empresas focadas no segmento popular se encaixaram nesta situação. Além da Tenda, a companhia fundada por Silveira fez muitas obras da também mineira MRV.
Até agora, a empresa já entregou mais de 20.000 unidades habitacionais em cinco estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Pernambuco.
Em 2024, a Árbore foi reconhecida como a 26ª maior do setor pelo ranking INTEC, que mede as 100 maiores construtoras do país segundo a metragem dos lançamentos.
No topo do mesmo ranking estão outras construtoras beneficiadas pelas novas regras do MCMV, como as paulistanas Direcional (1º lugar), Pacaembu (2º) e Tenda (5º).
Mais recentemente, a empresa retomou o olhar ao mercado de luxo onde Silveira começou a carreira.
Com a bandeira Signature, a Árbore tem investido em condomínios de alto padrão na praia de Muro Alto, nos arredores de Porto de Galinhas, um destino turístico badalado do litoral de Pernambuco.
"Com a pandemia, surgiu a oportunidade de investir em empreendimentos no Nordeste, muito em função da demanda por uma segunda residência para quem, por exemplo, pode fazer home office", diz Silveira, animado com os resultados da operação na região. "Hoje, quase um terço das receitas da empresa vêm do Nordeste."
Em 2024, a projeção da Árbore é chegar a um faturamento de 450 milhões de reais.
O rankingEXAME Negócios em Expansãoé uma iniciativa da EXAME e do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).
O objetivo é encontrar as empresas emergentes brasileiras com as maiores taxas de crescimento de receita operacional líquida ao longo de 12 meses.
Em 2024, a pesquisa avaliou as empresas brasileiras que mais conseguiram expandir receitas ao longo de 2023.
A análise considerou os negócios com faturamento anual entre 2 milhões e 600 milhões de reais. Após uma análise detalhada das demonstrações contábeis das empresas inscritas, a edição de 2024 do ranking foi lançada no dia 24 de julho.
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